"Há três anos, quando propus a meu técnico fazer a prova, ele me disse que era impossível uma pessoa conseguir atravessar a Baía de Todos os Santos com um braço só, ainda por cima nadando borboleta. Naquele momento fiquei chocada, porque era o meu sonho", conta ela, que decidiu seguir em frente e começou a se preparar no ano passado. Durante o trajeto, de 12 km, Verônica será acompanhada por três barcos: uma ambulância, sua equipe técnica e produtores do documentário Quebra Mar, que contará a história de vida dela. A baiana sabe das dificuldades de nadar uma prova com apenas um braço, mas garante que sua preocupação não está na limitação física.
Há 3 anos, quando propus a um técnico meu fazer a prova, ele me disse que era impossível uma pessoa conseguir atravessar a Baía de Todos os Santos com um braço só, ainda por cima nadando borboleta, e não levou a ideia para frente. Eu sei que nadar assim exige muita força, mas nada é impossível até a gente tentar.
E o que você sentiu quando ele disse que você não era capaz?
Naquele momento fiquei chocada. Porque sempre tive esse sonho de fazer a travessia, tenho um encanto pelo mar, uma ligação muito forte. Quando ele olhou para mim e disse que eu não era capaz, eu disse “não”. Ano passado decidi ir atrás do meu sonho e falei que faria a prova. Tomei essa decisão por não abrir mão do meu sonho e por ter sido desafiada por ele, que não levou a sério, não acreditou em mim. Eu acredito e aposto em mim.
Por que escolheu borboleta, já que é o nado mais difícil?
Justamente por isso. Eu sou nadadora de borboleta, foi assim que fui medalhista, campeã mundial, mas é um nado muito difícil. Sou nadadora de 50 metros, não de 12 mil. É um nado que exige muita força e, como quero entrar no livro dos recordes, acho mais improvável que outra pessoa tente fazer o mesmo com esse tipo de nado. Eu poderia chegar lá e fazer nadando crawl, que é mais fácil. Também seria a primeira a conseguir isso, mas o intuito é fazer porque é difícil mesmo, porque exijo mais de mim. A coisa mais gostosa é exatamente essa. Há muita expectativa em cima disso. Será que ela vai chegar? Vai conseguir? Até eu sinto isso.
Você está preparada para encarar o mar?
Fisicamente, sim. Psicologicamente, vou precisar trabalhar muito no dia da prova, porque eu morro de medo do mar. Na verdade, tenho muito medo do que pode vir por baixo, porque é muito escuro. Tenho pavor do mistério do mar, do que tem lá embaixo. Essa parte vai ser a mais difícil para mim.
Tem medo de não conseguir completar a prova?
Eu não penso em não chegar. Claro que pode acontecer. Posso pegar uma maré forte e ter de desistir, mas não me vejo frustrada de jeito nenhum. Se eu não conseguir, a tentativa vai ter valido à pena, por tudo que treinei, me preparei, me dediquei.
Um documentário será gravado durante a prova. Sobre o que é esse trabalho?
Estamos registrando imagens há um ano e meio. O documentário se chama Quebra Mar, justamente por essa tentativa de quebrar um recorde mundial na travessia feita no mar. O vídeo contará desde o começo, quando descobri que era portadora da síndrome, o que passei em Paris, quando passei até fome, e como arrecadei dinheiro e arrecado até hoje para me tratar. Também conta da minha vida de atleta, os desafios, e será finalizado com imagens da travessia. Espero que seja um final bonito.
Em quanto tempo você pretende concluir a prova?
Largo às 5 da manhã e devo acabar em umas 8 horas, mas já avisei para as pessoas chegarem na praia 10h da manhã, porque quero fazer em 6h. Tudo pode acontecer, né? Vai que eu consigo. Umas 01h30, 11h, quero estar passando na linha de chegada.
De onde vem tanta alegria de viver?
Há 7 anos, quando foi dado o diagnóstico, o médico olhou para mim e disse que eu tinha apenas um ano de vida. Tentei tornar aquele ano em motivação. Eu falei para mim mesma que não poderia viver só um ano. Muita gente teria desistido, não buscaria tratamento, mas eu optei por lutar. Passei muita dificuldade nessa ano, mas foi nele que descobri o verdadeiro sabor da palavra "vida". Cada dia que eu acordo, considero um presente. Tenho 8 anos a mais do que me foi diagnosticado. Além disso, tenho meus filhos como motivação. É por eles que vivo todos os dias. Todas as vezes que eles me abraçam e falam “mãe, você não vai morrer”, me motivo ainda mais para me manter viva. Hoje me dedico pouco a eles e passo a maioria do tempo em tratamento ou treinos, mas o pouco que tenho com eles é melhor do que nada. Esse pouco é o que eu poderia não ter se abrisse mão de mim.
Como eles lidam com isso tudo?
São crianças, né? Os dois têm apenas 9 anos e choram muito por medo de me perder, mas eu sou muito sincera com eles e falo sempre a verdade. Eles sabem que hoje estou aqui e amanhã posso não estar mais. Hoje me preparo para a travessia do dia 12 e posso não chegar até lá. Prefiro jogar limpo com eles. Se um dia eu não estiver mais aqui, os dois vão saber que eu lutei, nunca desisti da vida, e terão orgulho da mãe deles.
Seu colágeno ainda está baixo. Isso não te dá medo para encarar um desafio desses?
A última vez que medi estava em 1%, que é muito baixo. Vivo muitos altos e baixos na minha saúde, mas é mais um motivo para eu querer fazer a travessia. É mais um desafio, um obstáculo extra e eu não tenho medo de desafios.
Consegue imaginar o que vai passar pela sua cabeça no fim da prova?
Eu consigo fazer a travessia toda na cabeça. Imagino a largada, o percurso tudo, mas não consigo pensar na chegada. Vai ser uma emoção tão grande tomando conta de mim, uma sensação de vitória, de superação. Vai ser a maior conquista da minha vida.
Qual é o seu maior sonho como atleta?
Disputar as paralimpíadas do Rio 2016. Será dentro de casa, é uma oportunidade da minha família estar presente, dos meus filhos me verem. Eu só penso nisso. Eu fui para Uberlândia justamente para buscar esse sonho. Preciso alcançar o índice e espero ter a sorte de chegar lá.
Fonte:
http://www.ibahia.com/detalhe/noticia/paratleta-baiana-tenta-entrar-para-o-guinness-com-travessia-mar-grande-salvador/?cHash=777a09972b067a959a1a26076cf66f55