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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Papo sério

Infectologista fala sobre como a sífilis afeta o corpo, principalmente o do soropositivo.


por Redação MundoMais





Quando se fala em sífilis, parece algo que ocorria há séculos, com os escritores românticos, nada atual. Mas infelizmente isso não é verdade, uma vez que a doença está cada dia fazendo mais vítimas e, para quem já tem HIV, pode danificar e muito o tratamento com os antirretrovirais.
Infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, referência no tratamento de HIV/AIDS no Brasil inteiro,Ralcyon Teixeira esclarece que é preciso tomar cuidado em todos os tipos de relação sexual – e reforça que a camisinha ainda é muito necessária, indispensável. “Com camisinha diminui a sensibilidade, mas é o que tem de melhor, tem que usar, inclusive no sexo oral também. Ou então não faz sexo”, sentencia.
Na entrevista a seguir, ele fala sobre como a sífilis se manifesta, como ela ataca o sistema imunológico de soropositivos e critica a educação brasileira, católica, atrasada, que não abre o diálogo para se falar sobre doenças sexualmente transmissíveis. Confira, e cuide-se:

Como uma DST pode piorar a vida de quem já tem o HIV?

O que é importante focar, que assusta a gente de maneira geral, é essa falta de preocupação com as DST. Depois que a pessoa já sabe que está infectada pelo HIV ela tem duas maneiras de se comportar: uma ela passa a ser um exemplo e muda totalmente a vida, passa a comer melhor, vai para a academia, come só comida saudável, passa a se cuidar mais. E tem outro grupo que já está com HIV e pensa de duas maneiras: agora se eu pegar DST não tem problema, eu já tenho HIV; e tem outro grupo que é pior, que é pequeno, ainda bem, que acha que se passar HIV para outra pessoa tudo bem. Isso é complicado também. Tem a intenção de passar o HIV. Falando da DST, o que nos preocupa são essas pessoas que já têm o HIV e são contaminadas. Está havendo uma falha de entendimento aí sobre o que é DST, como se contamina. Mais pela sífilis, a sífilis hoje voltou com uma força muito grande.

Quando a gente fala em sífilis parece uma coisa da época de Dom Pedro.

Parece sim, aquela fase onde ou você tinha sífilis ou tinha tuberculose. Mas ela voltou com força, cada vez mais. Está havendo um erro no entendimento sobre o que é ter uma relação sexual. Quando a gente atende a gente conversa, estimula o paciente soropositivo a ter relação sexual, não ficar travado sexualmente. Aí quando ele é contaminado por outra DST a gente dá um puxão de orelha e pergunta do preservativo. Ele diz que usou, mas aí você pergunta: e o sexo oral? O paciente dá aquela parada, engole seco. Ele não reconhece que o sexo oral também é sexo, também transmite DST. Usar camisinha no sexo oral não é uma bobagem, é uma necessidade. Tem que usar. Senão não faz porque tem essa transmissão pela boca. Tanto de alguém que está com uma lesão no pênis ou alguém que está com uma lesão na boca. Naquela brincadeira preliminar sem camisinha também pode transmitir se a pessoa tiver alguma lesão no ânus ou no pênis pode passar. Então a transmissão da sífilis é por contato íntimo, não necessariamente sexual. Em uma preliminar mais forte, se a pessoa estiver com a úlcera, você pode pegar. A sífilis aparece como uma feridinha indolor no pênis. Então a pessoa fica naquela de “será que é?”. Se o paciente não procurar o médico essa ferida vai sumir e ele vai achar que não era nada. Quando você tem a sífilis piora muito o tratamento do HIV porque o vírus do HIV invade uma célula de defesa, quando você pega alguma infecção que estimula essa célula o HIV pode sair de controle, pode aumentar a carga viral, aumentando a carga viral a imunidade pode cair mais. Se você não diagnosticar e não tratar corretamente a sífilis, pode piorar o HIV. A sífilis diminui a quantidade de células CD4 e aumenta a carga viral. O paciente que tem HIV e pega sífilis tem mais chance de ter uma complicação que é a neurossífilis, que é quando a bactéria vai parar na meninge, no cérebro, no sistema nervoso central.

Como ela se manifesta?

Pode ser assintomática, que é muito perigosa. Então existe uma discussão entre os médicos que se todo paciente HIV diagnosticado com sífilis tem que colher o líquido da espinha, o liquor, para fazer exame. Mas alguns pacientes têm sintomas como dor de cabeça, visão embaçada, isso já é um indício para o médico colher o líquido da espinha para ver se a sífilis não foi parar no sistema nervoso.

E se foi parar no sistema nervoso?

Aí é um tratamento com o paciente internado de 10 a 14 dias. Tomando antibiótico de quatro em quatro horas. Duas semanas que o paciente perde da vida dele tomando remédio para ele não ter no futuro uma demência, ficar esquecido, desenvolver uma doença psiquiátrica – às vezes tem - relacionada à sífilis. Não dá para brincar, pode ser só uma simples benzetacil, mas pode ter que ficar internado. A maioria das pessoas não sabe disso, e a sífilis está vindo com muita força.

E qual é a primeira manifestação da sífilis?

Ele vai notar uma lesão, uma úlcera, geralmente no pênis. Aparece de duas a três semanas depois da infecção. Mas pode aparecer em outros lugares, no ânus, na boca. Essa lesão não é tão profunda e não dói. A pessoa pode ficar achando que machucou, esfolou em uma relação mais forte. Essa lesão desaparece sozinha e não deixa marca. Em média, 60% das pessoas lembram que tiveram essa lesão, as outras 40% não lembram, não sabem como pegaram. Essa lesão cicatriza e, dependendo da sua relação com essa bactéria, ela pode aparecer de outra forma. Tem uma forma que é a secundária, que aparece de dois a três meses depois da infecção, a pessoa fica com a pele vermelha, com pintinhas que também pegam a mão e o pé – coisa que não costuma aparecer com outras doenças -, com febre, crescem gânglios no pescoço. Se a pessoa não ficar alerta pode passar como um simples resfriado ou uma alergia ou coisa assim. Aí ela vai ficar boa de novo, depois de alguns anos essa pessoa pode ter uma complicação da sífilis: ou um quadro de alteração no coração, em que inflama uma veia super importante, a artéria de onde sai do coração o sangue com oxigênio, chama aorta, isso se chama ortite pela sífilis. No cérebro pode ter alteração no vaso sanguíneo, pode parecer que a pessoa tem derrame. Ou pode também causar doenças psiquiátricas, a pessoa passa a ter demência, psicose, transtorno bipolar em função da sífilis. Em meio a tanto isso, em qualquer ponto, pode-se desenvolver aquela inflamação no cérebro que é a meningite pela sífilis, em qualquer momento. Geralmente aparece nesse começo depois da contaminação, mas não tem uma ordem. É a DST mais prevalente.

Então, de um modo geral, o soropositivo que contrai uma DST tem seu sistema imunológico atacado?

Todos. A matéria é para quem já tem HIV, mas o contrário também acontece: se a pessoa tem uma DST, ela tem uma chance maior de ter o HIV. A pele dela, a mucosa, está afetada, é mais fácil de o HIV entrar no organismo. Para quem tem HIV, qualquer infecção que pegue a mais pode piorar a imunidade, porque ativa a célula de defesa. Só que ao mesmo tempo em que você ativa a célula de defesa você ativa um vírus, porque o vírus fica dentro da célula. Aumentando o vírus, diminui a quantidade de imunidade.

Tem que usar camisinha sempre então.

Vale a consciência, ter relação saudável. É preciso melhorar a prevenção, conversar abertamente. Com camisinha diminui a sensibilidade, mas é o que tem de melhor, tem que usar, inclusive no sexo oral também. Ou então não faz sexo. As pessoas ainda desconhecem coisas básicas sobre DST. A gente atende gente que diz que nunca ouviu falar sobre DST. Não é possível que em 2013 um jovem que tem acesso à internet nunca ouviu falar sobre isso. Camisinha sempre! É importante se olhar também, se perceber alguma alteração no corpo é preciso procurar um médico o mais rápido possível, é de graça e não precisa ter vergonha. Prevenir ainda é melhor do que tratar. Os dados estão cada vez mais assustadores, estamos errando na prevenção. Ainda é muito ruim com essa coisa de ser um país católico e evangélico, que proíbe a camisinha. Na escola ou não se pode falar sobre o assunto ou não tem gente preparada para isso. E no meio gay a educação sexual é mais complicada ainda, porque não houve diálogo nenhum. A pessoa está cheia de dúvidas e não sabe nada porque não tem como falar sobre o assunto por causa do preconceito.

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