Palmares

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sexta-feira, 24 de julho de 2015

A história do Sêmen

Como ter um filho com Nicolas Cage 

(A história do Sêmen).



Foi visitando um site obscuro que Núbia encontrou um esquema de importação de sêmen gringo. Até aí nenhuma novidade -  já que agências especializadas neste tipo de negócio já atuavam de forma regular no País. O diferencial é que esse site prometia entregar o sêmen de qualquer celebridade (qualquer!) que a cliente escolhesse. E tudo isso com pouca burocracia, sem intermediários, direto em casa, via correio ou Sedex.

O coração de Núbia quase saiu pela boca. Com as mãos tremulas, ela pegou o cartão de crédito que estava na bolsa e, sem calcular o absurdo do valor daquela transação, colocou todos os seus dados na rede (número de cartão, senha, banco, endereço…).

No campo em que dizia DIGITE AQUI O NOME DA CELEBRIDADE DOADORA DO SÊMEN, Núbia não teve dúvidas: NICOLAS CAGE.

Sim, a manicure tinha verdadeira adoração pelo ator. Seu quarto era repleto de pôsters e fotos do astro. Em cima de sua cama, emoldurado em dourado, um quadro de Nicolas Cage em O Motoqueiro Fantasma 2 - o filme da vida de Núbia. 

Agora, ela estava prestes a ter um filho do ator, do homem da sua vida, do motoqueiro fantasma. Suas colegas de salão não iriam acreditar quando ela aparecesse de barriga, quando ela anunciasse solenemente o nome do pai: Nicolas, Nicolas Cage.

Uns quinze minutos depois de confirmar o pagamento no site, Núbia recebeu um telefonema de sua operadora de cartão de crédito. O valor da transação era muito superior a tudo que ela já havia feito em termos de compras - ultrapassando, inclusive, o próprio limite do cartão. Mas, depois de uma tensa negociação com a menina do telemarketing, Núbia conseguiu confirmar a compra do sêmen do Nicolas Cage.

Depois vieram os dias estranhos. Núbia sofria com ansiedade. Tinha medo do sêmen se perder pelo caminho, ser extraviado ou, simplesmente, evaporar no trajeto que ela imaginava ser entre Los Angeles e Carapicuíba, na Grande São Paulo.

Quando o carteiro apontava em sua rua, ela quase desfalecia. Durante semanas tortuosas, Núbia se frustrava ao abordar o sujeito e perguntar: “Tem alguma coisa pra mim?”. Tinha. Mas, invariavelmente, eram contas de água, luz e telefone. Um dia, abordou um carteiro alcoolizado que, desrespeitoso e de saco cheio, respondeu a indagação diária com um grosseiro “não tem porra nenhuma para a senhora”. Núbia chorou.

Todas as noites Núbia sonhava com o futuro pai dos seus filhos. Eram sonhos em que ela contracenava com Nicolas Cage em seus filmes clássicos. Núbia tomava uísques com Cage em Despedida em Las Vegas; sobrevoava Carapicuíba de mãos dadas com o ator em A Cidade dos Anjos; levava uma leve mordida no pescoço em O Beijo do Vampiro e, claro, subia na garupa da moto do Motoqueiro Fantasma 2. 

Ela tinha também fantasias sobre como havia sido a doação de Cage.

Gostava de pensar no ator caminhando por uma alameda arborizada, óculos escuros e sorriso no rosto. No fim desta alameda, Cage entraria em uma sala branca, totalmente higienizada, e inundada pela 9ª Sinfonia de Beethoven (em algumas versões desta fantasia, Beethoven era substituído por Vitor e Léo).

Lá, Cage abriria o zíper da calça e com calma, pompa e elegância depositaria o seu sêmen em um pote dourado. Depois, no fim, Cage beijaria o pote e, ele próprio, trataria de enviar o produto para o Brasil, Carapicuíba, Grande São Paulo. 

Eis que um dia, ora vejam, o carteiro (não aquele grosseiro) entregou uma caixinha para a nossa Núbia. Ela quase não acreditou! Finalmente, o sêmen de Nicolas Cage havia sido encontrado o seu destino.

Ela abriu a caixa como uma criança abre um presente em dia de Natal. Insegura, levou o pequeno frasco junto ao peito e repetiu: “meu amor, mi amor, my love…”. Núbia teve medo que sua emoção espatifasse o tubinho e que todo aquele líquido translúcido, uma espécie de creme de leite aguado, se perdesse no vão de seu sofá. Prontamente, colocou-o no congelador, afastando um pouco a lasanha da Sadia, as forminhas de gelo e uma peça de picanha. 

Pronto. Agora, o passo seguinte, era descobrir como se inseminar com o sêmen do Nicolas Cage. Não achou nada na internet que explicasse os procedimentos corretos. Pensou que o ideal seria introduzir o tubinho inteiro, como se aplicasse um OB. Depois, achou que o correto era derramar o conteúdo do tubinho em uma seringa e, só assim, aplicar o sêmen dentro dela.

Optou pela seringa. Parecia a opção mais inteligente.

Mas como não queria arriscar neste procedimento, Núbia contou com a ajuda de Mariela, uma esteticista do bairro, responsável pela aplicação de silicone no seios e no bumbum da metade das meninas da vizinhança (embora Mariela não tivesse nenhuma formação que a credenciasse para tal prática).

Mariela estranhou, mas aceitou R$ 100 como cala boca. Com uma seringa de plástico, injetou o sêmen de Nicolas Cage em Núbia - que depois da aplicação precisou ficar 7 minutos de ponta-cabeça. Segundo Mariela, desta forma, o semên de Nicolas Cage iria encontrar com mais  facilidade o útero quente e ansioso da amiga.

E foi assim…

A barriga demorou para aparecer. Só depois do quinto mês era possível vislumbrar uma barriguinha. Tão logo ela apontou no horizonte, Núbia já fazia planos para o menino. Certamente, precisaria matriculá-lo em uma boa escola, talvez incentivá-lo no mundo das artes (caso quisesse seguir a carreira do pai) e, principalmente, encontrar um bom professor de inglês (sim, um dia o filho iria querer encontrar o pai biológico).

Se alguém perguntava quem era o pai, Núbia sorria misteriosa: “Vocês ainda vão saber”.

Quase 9 meses depois, Núbia estava com uma barriga gigante. Sentia algo se mexer dentro dela, chutes, pressão e coisa e tal, a hora tinha chegado.

Núbia foi levada às pressas para um hospital público. Os médicos ficaram assustados com o estado daquela barriga. Havia algo de incomum naquela gravidez. Ela sentia muitas dores. Tiveram que dopá-la antes de iniciar qualquer procedimento.

Tudo estava rodando. As coisas pareciam acontecer em outra velocidade. Em uma lentidão incomum. Núbia reparou que um dos homens no quarto era familiar. Como usava uma daquelas máscaras cirúrgicas era impossível ter certeza. Não, não, ela tinha certeza. Nicolas Cage veio para o parto. Ele olhava nos olhos dela, tirava a máscara e dizia, em português, que tudo iria ficar bem, que ela respirasse, que ela confiasse nos médicos. Núbia sentiu a mão de Nicolas Cage apertando suas próprias mãos. Eles estavam juntos nessa. Juntos como uma família. Aliás,  Cage era um homem de família. Tudo iria terminar bem. Em um flash, Núbia já estava na garupa do motoqueiro fantasma 2, havia um sol vermelho no fim da estrada - e eles iam na direção daquele sol, pra dentro daquele sol infernal. A Criança também estava na moto, protegida entre Nicolas Cage e Núbia. A criança tinha a cara do John Travolta. Subiam os créditos. The End. 


Fonte:
https://br.mulher.yahoo.com/blogs/n%C3%A3o-%C3%A9-voce-sou-eu/como-ter-um-filho-com-nicolas-cage--a-hist%C3%B3ria-do-s%C3%AAmen-135122023.html

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