Cachoeira é rica em patrimônio,
mas serviços deixam a desejar.
Para quem quer conhecer um pouco mais do município que tem pouco mais de 32 mil habitantes, não faltam opções culturais.
Se você está em Salvador, precisa apenas de uma hora e meia para ser transportado ao Brasil colonial. Basta dirigir 110 quilômetros até Cachoeira para caminhar pelas ruas da cidade que sediou batalhas pela independência da Bahia, ainda no século XIX.
Para quem quer conhecer um pouco mais do município que tem pouco mais de 32 mil habitantes, não faltam opções culturais – seja pelo sincretismo religioso, pelas igrejas e terreiros de candomblé, pela culinária ou pelos engenhos às margens do Rio Paraguaçu.
Na beira do Rio Paraguaçu, a histórica cidade de Cachoeira encanta pela beleza de sua arquitetura, suas igrejas e terreiros, mas não há infraestrutura para receber bem os turistas.
Não é por acaso que, nos últimos anos, a cidade tenha atraído eventos como a Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica) e o festival de cinema Cachoeira Doc. Mesmo assim, Cachoeira ainda precisa aprender com colegas como Paraty, no Rio de Janeiro, que se tornou referência em sediar eventos como a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
Isso fica claro, por exemplo, quando alguém pensa em se hospedar em Cachoeira em períodos como o da Flica ou o São João. O evento literário atrai cerca de cinco mil pessoas por dia. O São João, 30 mil. Mas Cachoeira conta com aproximadamente 500 leitos, segundo a prefeitura. Por sua vez, Paraty tem 11 mil, de acordo com a Secretaria de Turismo da cidade.
Para completar, na Flica, aqueles que deixam para o último minuto nem devem mais ter chance. Não há mais vagas na cidade: todos os leitos já foram reservados.
O produtor Marcus Ferreira, um dos organizadores da festa, diz que os limites da hospedagem em Cachoeira atrapalham até as possibilidades de ampliação do evento. “Mesmo para o público de hoje, se tivéssemos dois mil leitos, acho que não seria suficiente”. Para ele, é preciso investir na estrutura da cidade.
“Além da hospedagem, o Museu (Regional de Cachoeira) devia ficar aberto aos domingos, por exemplo. Também é preciso formalizar o calendário de eventos da cidade, incluindo os mais simples, como as festas nos terreiros. Isso ajuda a mostrar o potencial que temos”, acrescenta Ferreira.
Investir?
O secretário de Turismo de Cachoeira, José Luís, reconhece a deficiência na hotelaria, mas acredita que estar perto de Salvador ajuda. “Temos essa vantagem. Além disso, temos trabalhado para tentar atrair o setor empresarial. A visibilidade de eventos como a Flica já ajuda a mostrar que vale a pena investir”.
Além disso, Cachoeira é um dos cinco municípios baianos incluso no Programa de Hospedagem Cama e Café, do Ministério do Turismo. Popular em países como os EUA e Inglaterra, esse modelo de hospedagem prevê o aluguel de um quarto pelo turista, com serviços de alimentação e limpeza, mas sem que o dono da casa precise sair.
De acordo com o prefeito de Cachoeira, Carlos Pereira, o município está preparando novos eventos para o próximo ano. “Estamos tentando atrair novas festas, como um festival de reggae e uma feira gastronômica, para que o turismo aqui não seja só sazonal”.
Na Flica, deve ser lançado um guia turístico de Cachoeira, com os principais eventos da cidade, além de um novo roteiro para visitantes. Com isso, o prefeito espera atrair investidores. “A Flica já vem ajudando, trazendo um público diferente para Cachoeira”.
Roteiro
Quem consegue hospedagem, pode sair tranquilo para apreciar a culinária local. Anote aí: é obrigatório provar a maniçoba. Para os moradores, é o prato tipicamente cachoeirano.
E para continuar a lista de recomendações, não dispense um passeio de barco pelo Rio Paraguaçu. Vale também descer do barco para conhecer as ruínas do Engenho Nossa Senhora da Vitória, que foi fundado em 1812 e funcionou por quase 150 anos.
Até os barcos precisam de investimentos - atualmente, apenas três barqueiros fazem a travessia para os turistas, segundo a Secretaria Municipal de Turismo. Porém, o prefeito Carlos Pereira informou que já foi encaminhado um projeto à Câmara Municipal que prevê a construção de um novo píer com atracadouro para a cidade.
Além disso, a cidade deve receber R$ 106 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas. O dinheiro deve ser destinado à recuperação de monumentos e prédios antigos, além da construção de um novo resort. Ainda não há previsão para o início de nenhuma das obras.
Com hotéis lotados, Flica terá esquema bate e volta
Já que não há mais quartos disponíveis nos hotéis para a Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), agências de turismo estão organizando pacotes de bate e volta: o turista fica hospedado em Salvador, mas tem transporte para Cachoeira todos os dias. De acordo com a Secretaria de Turismo do Estado (Setur), a iniciativa já foi adotada por empresas como a Lilás Turismo.
Alguns dos hotéis da cidade, como a Pousada do Convento, foram fechados desde o ano passado — os 26 apartamentos foram reservados pela organização da festa. Em outros estabelecimentos, como o Aclamação Apart Hotel, não há quartos desde março. Lá, a preparação já começou. “Ano passado, contratamos 15 novos funcionários para o restaurante e foi difícil. Esse ano, vamos trabalhar com 20”, contou o gerente do hotel, Daniel Santana.
Paraty tem 11 mil leitos de hotel
Apesar da importância histórica e de terem se tornado sedes de feiras literárias e festivais de música, Cachoeira e Paraty, no Rio, ainda estão distantes em estrutura. Na cidade fluminense, segundo o secretário-adjunto de Turismo, Gabriel Costa, há cerca de 600 hotéis e pousadas. O número de leitos chega a 11 mil — suficiente para a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que tem público de 25 mil pessoas. “Geralmente, temos 80% de ocupação durante a Flip. Mas ela tem o poder de divulgar a cidade. Nossa indústria é o turismo. Só a Flip gera cerca de 500 empregos”.
Culinária
Em Cachoeira, tem que comer maniçoba. Mas o cardápio ainda tem pratos como muqueca e escondidinho. No entanto, a cidade tem apenas entre 12 e 15 restaurantes, segundo o prefeito Carlos Pereira. Os empresários dizem que é difícil comprar alguns ingredientes. “Queijos como gorgonzola, a gente não acha”, diz Daniel de Burgos, dono do restaurante Casa di Taipa.
Cultura
Cachoeira tem 44 terreiros de candomblé catalogados. Alguns, como o Ilê Axé Ici Mimó, têm mais de 200 anos. Segundo Pai Duda, responsável pela casa, todo dia 31 de julho os membros fazem um culto único no Brasil. “É para Obaluaê, para lembrar a cura de várias pessoas durante uma epidemia de cólera”. Por outro lado, a Festa da Boa Morte não está atraindo muitos turistas este ano. Ela acontece de 13 a 17 deste mês. Nos três principais hotéis – Pousada do Convento, Aclamação Apart e Cachoeira Apart– as reservas não chegaram a 50%. No entanto, segundo a coordenadora da Irmandade, Conceição Sala, o número de visitantes não diminuiu. “Mas a cidade não tem estrutura. Eles vêm, mas preferem se hospedar em outros lugares, como Salvador”. Desde novembro, o prédio da Irmandade está fechado para reformas.
Hotéis
O maior hotel de Cachoeira, a Pousada do Convento, está passando por reformas. O convento foi transformado em pousada em 1981, mais de 200 anos após ter sido construído. Atualmente, a cidade tem cerca de 15 hotéis, segundo a prefeitura, mas os 500 leitos são insuficientes para festas como a Flica, que atrai 5 mil pessoas por dia.
Patrimônio
Cachoeira tem um complexo que inclui sete igrejas católicas, incluindo as duas igrejas do Conjunto do Carmo. Mas, à exceção da Igreja da Ordem Terceira, os turistas só podem conferir o lado de fora das construções – elas ficam fechadas na maior parte dos dias. No entanto, o prefeito Carlos Pereira diz que está em busca de alternativas para manter as igrejas e outros prédios históricos abertos para visitação nos finais de semana.
Fontes:
Thais Borgesthais.mascarenhas@redebahia.com.br
http://www.correio24horas.com.br/detalhe/noticia/cachoeira-e-rica-em-patrimonio-mas-servicos-deixam-a-desejar/
Nenhum comentário:
Postar um comentário