Senhoras evangélicas bateram na cabeça de uma criança durante a festa do divino
Os
representantes de entidades que integram o Movimento Negro e
Afro-religioso Maranhense se reuniram durante a semana para discutir a
denúncia de agressão contra uma criança de apenas 3 anos de idade que
participava das celebrações da Festa do Divino no último dia 17, no Anjo
da Guarda. O
caso foi registrado no16º DP da Vila Embratel pelos familiares da
vítima e está sendo acompanhado pelo Fórum Estadual de Religiões de
Matriz Africana do Maranhão (Ferma).
O
coordenador de política institucional do Ferma, Neto de Azile, conta
que os membros do terreiro "Kwebe-se to Vodun Bade Só", na 2ª Travessa
do Bom Jesus, no Anjo da Guarda, realizaram um cortejo para buscar o
mastro da Festa do Divino na Rua Costa Rica. Ao passar em frente a um
culto evangélico duas senhoras começaram a distribuir panfletos que não
foram aceitos. Uma delas teria começado a proferir ofensas como "isso é
coisa do demônio" e em determinado momento, bateu na cabeça de uma
criança de 3 anos, jogando-a para trás.
Na
reunião, as entidades participantes decidiram que o ato representa uma
agressão física, psicológica e moral ferindo o direito constitucional do
livre exercício da religião. Foi decidido que será aberta uma ação por
perda e danos morais pela violência contra a criança e uma ação civil
pública devido ao cerceamento da opção religiosa do grupo.
Além
das organizações ligadas ao movimento negro como a Ferma, Coletivo de
Entidades Negras (CEN) e Rede de Religiões Afro, também estiveram
presentes representantes da Secretaria Estadual Extraordinária da
Igualdade Racial, Secretaria dos Direitos Humanos e Cidadania do Estado
do Maranhão (Sedihc) e Fórum Intergovernamental de Igualdade Racial.
Devido à complexidade do caso, a Sedihc sugeriu uma reunião com a
assessoria jurídica da pasta para tratar da questão, o encontro deve ser
realizado até a próxima semana.
O
coordenador de política institucional do Ferma afirma que a criança não
foi ferida gravemente, mas que o ato a traumatizou. A garota ficou
triste e chegou a desistir de vestir a roupa, relatando que "a moça
bateu na coroa, agora eu não quero mais". As possíveis agressoras ainda
não foram identificadas, mas Neto de Azile explicou que o caso foi
repassado à Delegacia da Criança e do Adolescente (DPCA) e ao 16º DP
para que o líder da congregação onde as duas mulheres estavam possa
identificá-las.
Neto de Azile considerou a ação das mulheres como um ato de fanatismo
que desrespeita o preceito religioso e caracterizou o ato como um
retorno à Idade Média. "Somos um estado laico e temos liberdade
religiosa assegurada em lei, não podemos deixar isso passar batido.
Não
bastasse a desqualificação que sofremos, ainda demonizam o nosso
culto", comentou. O representante da Ferma destacou que há três anos as
entidades negras realizam passeatas pela liberdade religiosa e que no
último ano, houve um compromisso do Ministério Público em salvaguardar o
livre exercício religioso.
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